· 

O SOL de Chãs

     Diogo foi o primeiro a chegar.

     O menino franzino, tímido, ágil e enérgico correu à frente saltando e deribelando penedos de granito maiores que ele até à escavada cova rupestre circular no vertice da observação do pôr do sol no Solstício de Verão na aldeia de Chãs.

     Diogo foi o menino da aldeia que a sua mãe levou pela primeira vez a conhecer o lugar no campo que “magicamente" se revela no início do verão e do inverno naquelas terras do alto-douro por os lados de Vila Nova de Foz Côa.

     Para trás deixou atrasados todos os que partiram do adro da igreja da aldeia numa caminhada-peregrinação que passou pelas pequenas ruas seguindo por veredas entre cheiros de ovinos, amendoeiras, oliveiras e giestas.

     Regularmente pelos solstícios e equinócios centenas pessoas convergem ali para descobrir e apreciar um relógio calendário megalítico que facilmente poderíamos pisar e passar ao lado sem o ver.

     Os escritos mais antigos deste espaço milenar foram feitos pelo Professor e Investigador Adriano Vasco Rodrigues em meados do século passado.

     De então até hoje dezenas de arqueólogos, antropólogos, historiadores, astrónomos, geólogos observaram e estudaram o local e regularmente todos os anos caminhantes e peregrinos, poetas, músicos, religiosos, ali vão ou regressam para a Golden Hour (hora de oro do nascer ou pôr do sol) nos dias equinociais e solstíciais.

     O momento é vivido e recordado com fotos ou pequenos objectos ali depositados como imagens religiosas, flores, poemas gravados.

     Nste verão de 2022 mais uma vez se juntaram peregrinos vestidos para a ocasião em que se incluíam músicos, poetas, eremitas, religiosos, residentes, autarcas e novos visitantes.

     A meteorologia alheia ao evento não ajudou mas deu para perceber como o sol destapado terá sido adorado ao longo de milénios naquele local como diferentes heliolatrias e fazendo desejar ali voltar em melhor ocasião.

     Um padre local comentaria sobre o evento e a sua diversidade : “fomos feitos para olhar além do horizonte”.

     No vale próximo ficam as gravuras rupestres que continuam a ser estudadas e cuja grafia nos deixou tanta informação como imaginação.

     O espaço por agora é classificado de interesse por quem o visita e com o interesse do município de Vila Nova de Foz Coa que apoia quem ali se desloca nos dias de celebração dos ciclos solares.

     O Diogo continuou correndo e saltando até ao início da noite entre penedos no seu primeiro dia e o mais longo deste verão.

 

Inté...